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quinta-feira, abril 25, 2024

Matrizes Tradicionais do Samba no Rio de Janeiro são patrimônio imaterial brasileiro

Foto: Divulgação

Mais que uma dança ou uma expressão de alegria e celebração, o samba é um instrumento de identificação do brasileiro. O ritmo, os movimentos e as rimas abrem um canal de contato com as raízes de quem nasceu por essas terras. Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo são as três vertentes do samba carioca elevadas a patrimônio imaterial brasileiro – reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Uma relação com a raiz e o formato. O jornalista e pesquisador da Fundação Nacional das Artes (Funarte), no Rio de Janeiro, Pedro Paula Malta, vai além, destaca o samba como uma visão e compreensão de mundo, da história e do passado do povo brasileiro. Além disso, traz ao presente a confraternização. “O samba tem essa característica de agregar, de você ter dentro desse espírito de se compartilhar, de você contribuir com a tua parte, o outro contribuir com a dele, e aquilo tudo se formar como samba. Se a gente tomar como exemplo a roda de samba, é uma coisa compartilhada. Você está em uma roda trocando energia com muitas pessoas e, cada um, contribuindo com o seu pouco ou o seu muito para aquela roda”, observa.

Toda essa simbologia, pluralidade e ressignificação no imaginário popular ocupa espaço fixo na narrativa cultural brasileira. O pedido para tornar as matrizes do samba carioca em patrimônio imaterial veio de dentro da comunidade da Estação Primeira de Mangueira – o Museu do Samba. O local narra, em exposições fixas e temporárias, os processos dessa matriz.

Criado em 2001 como Centro Cultural Cartola, o Museu do Samba atuou à frente do processo de reconhecimento e salvaguarda do samba como patrimônio cultural imaterial, além de desenvolver ações educativas e advogar por mais espaço na sociedade para o samba, sua memória e os detentores desses bens culturais. Além de preservar a origem, a proposta fortalece a cultura. A gerente técnica do Museu do Samba, Desirree Reis, explica as peculiaridades das três vertentes do samba carioca que são patrimônio imaterial brasileiro.

“Ele está muito relacionado a esse lugar de sociabilização, de celebração do samba. Ele fala de amor, da vida, das escolas de samba. Mas ele deve ter reconhecimento da comunidade, desse terreiro”.

Partido Alto
“Ele é muito conhecido pelo improviso, as pessoas conhecem o Partido Alto muito por conta dos versos improvisados”.

Samba-enredo
“O samba-enredo é o mais conhecido, até pelas escolas de samba. Ele é construído para esse fim mesmo. Ele tem um enredo, que é o mote, que é o tema que vai trabalhar naquele samba. Mas ele tem como fim o desfile das escolas de samba”.

Reconhecimento e salvaguarda

“Patrimônio imaterial que entendemos são as nossas referências culturais; que são compreendidas como referências culturais” – explica a superintendente do Instituto Iphan no Rio de Janeiro, Mônica Costa. Portanto, para ser validado como patrimônio cultural brasileiro, o rito deve ser referenciado pela comunidade que detém o seu conhecimento técnico. “Dentro desse plano de salvaguarda você tem sempre a criação de um centro de referência da memória daquele bem. No caso do samba carioca, é o Museu do Samba”, relata Mônica.

Presidente do Conselho do Museu do Samba, Nilcemar Nogueira sabe de seu privilégio no meio. Neta de Dona Zica e do mestre Cartola, fala com propriedade sobre o que representa o samba e as transformações que provocou na trajetória de sua família. “As histórias dos meus avós ilustram bem este fato da transformação. Comprovam isso. Quando eu digo que o samba tem várias linguagens, estou falando que tem a música, o ritmo, a poesia, a dança, a culinária. As linguagens tradicionais estão presentes com outros desdobramentos, o que constitui uma grande cena”, observa.

Economia criativa
Nilcemar ainda atenta para outra questão, além da cultural – a econômica. De acordo com ela, “quando você pensa no impacto da dimensão econômica da cultura, você automaticamente pensa em uma cadeia produtiva. Se você promove, ativa essa cadeia, você mexe na economia da cidade e do País”.

No Engenho de Dentro, Zona Norte no Rio de Janeiro, o samba movimenta a renda de trabalhadores autônomos e empreendedores. Uma celebração que começou no quintal de casa e tomou uma área proporcional a um pavilhão de esportes. Ao ar livre, todas as semanas, a comunidade é convidada a sambar. Com entrada gratuita, o consumo começa dentro da área.

“Hoje, a gente traz aqui pelo menos 150 famílias, que dependem desse samba. Eles esperam a semana toda pelo samba para poder sustentar a família. Vem desde o cara que vende o gelo, o que carrega a caixa de som, o que tem um depósito que vende, enfim, é uma cadeia”, conta o comerciante e idealizador do projeto, Eduardo Bastos.

Matrizes

As Matrizes do Samba no Rio de Janeiro foram inscritas no Livro de Registro de Formas de Expressão, em 2007. No começo do século XX, a partir de influências rítmicas, poéticas e musicais do jongo, do samba de roda baiano, do maxixe e da marcha carnavalesca, consolidaram-se três novas formas de samba: o Partido Alto, vinculado ao cotidiano e a uma criação coletiva baseada em improvisos; o Samba-enredo, de ritmo inventado nas rodas do bairro e apropriado pelas nascentes escolas de samba para animar os seus desfiles de carnaval; e o Samba de Terreiro, vinculado à quadra da escola, ao quintal do subúrbio, à roda de samba do botequim.

Essas matrizes referenciais do samba no Rio de Janeiro distinguem-se de outros subgêneros de samba criados posteriormente e guardam relação direta com os padrões de sociabilidade de onde emergem. Há autoria individual, porém a performance é necessariamente coletiva e se funda em comunidades situadas em áreas populares da cidade do Rio de Janeiro.

 

FONTE: Secretaria Especial da Cultura

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